Restrita Tática: entenda como atua a célula de elite do PCC flagrada monitorando autoridades em SP
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Entenda o plano descoberto do PCC para matar promotor e coordenador de presídios de SP
A Operação Recon, do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Civil, revelou na sexta-feira (24) um plano minucioso do Primeiro Comando da Capital (PCC) para executar o promotor de Justiça Lincoln Gakiya e o coordenador de presídios Roberto Medina, responsável por unidades prisionais da Região Oeste do estado.
Segundo as investigações, o monitoramento dos passos dos dois agentes do estado era feito por um grupo de elite dentro do PCC chamado de Restrita Tática.
O grupo, segundo os investigadores, “é uma célula do crime organizado estruturada de forma compartimentada e altamente disciplinada, incumbida de realizar levantamentos detalhados da rotina de autoridades públicas e de seus familiares, com a clara finalidade de preparar atentados contra esses alvos previamente selecionados”.
A existência da Restrita Tática já tinha sido revelada pelo secretário da Segurança Pública (SSP), Guilherme Derrite, no final do mês passado. Na ocasião, o secretário tinha afirmado que o grupo era treinado para justamente cometer atentados contra autoridades juradas de morte pelo PCC.
O promotor de Justiça Lincoln Gakiya e do coordenador de presídios Roberto Medina, da Secretaria de Administração Penitenciária.
Montagem/g1/Reprodução/TV Globo
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Segundo Derrite, essa estrutura criminosa está ligada ao assassinato do ex-delegado-geral de SP Ruy Ferraz Fontes, morto no dia 15 de setembro, na Praia Grande, litoral paulista.
“De uns anos para cá, eles montaram um grupo da organização criminosa chamado Restrita tática. Os indivíduos dessa Restrita tática são treinados para realizarem atentados contra autoridades. Eles passam por treinamentos com diversos armamentos”, explicou na saída de um Simpósio Nacional de Segurança Pública, realizado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Na Operação Recon desta sexta (24), o Ministério Público afirmou que criminosos dessa célula da facção haviam "identificado, monitorado e mapeado os hábitos diários de autoridades, num plano meticuloso e audacioso que demonstrava o grau de periculosidade e ousadia da organização".
"A célula operava sob rígido esquema de compartimentação, no qual cada integrante desempenhava uma função específica, sem conhecer a totalidade do plano, o que dificultava a detecção da trama", diz o MP-SP.
Monitoramento de Gakiya e Medina
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As investigações do MP paulista apontam que o Restrita Tática foi o responsável pelo monitoramento dos passos de Gakiya e de Medina.
Os investigadores apontam que o grupo de elite do PCC chegou a alugar uma casa de luxo a menos de 1 km da casa de Gakiya, a fim de acompanhar o comportamento da escolta que faz a segurança do promotor em Presidente Prudente, no interior de SP. A ideia era fazer o ataque no caminho dele para o trabalho.
No caso de Roberto Medina, os investigadores descobriram que ele e a esposa foram monitorados por pelo menos três meses.
No vídeo descoberto com traficantes do PCC presos, é possível ver um dos integrantes da facção explicando a outros suspeitos, com apoio do Google Maps, como é o trajeto da casa de Medina ao presídio (veja abaixo).
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Reprodução
Vídeo mostra como integrantes do PCC traçaram trajeto percorrido por Medina
Além dessas imagens, o relatório a que o g1 teve acesso afirma que, em outro vídeo descoberto pela Polícia Civil, um criminoso grava o trajeto de moto e fotos de carros parados fazendo campana perto da casa de Medina.
O levantamento da rotina dos de Medina e Gakiya coincide com o período em que suspeitos pela morte de Ruy Ferraz circularam com um carro no litoral de São Paulo, possivelmente para mapear a rotina dele antes da execução.
Lincoln Gakyia afirmou nesta sexta (24), em entrevista à GloboNews, que houve um 'Salve' de dentro das cadeias paulistas para que os membros do PCC executassem autoridades estaduais.
"Faz parte de uma mesma ordem que infelizmente culminou com a morte do delegado Rui Fontes. Neste mesmo 'salve' havia ordens para me matar e matar o doutor Roberto Medina também", disse o promotor do Gaeco.
Promotor Lincoln Gakiya fala sobre operação que mira plano do PCC para matar autoridades em SP
"Salve" é o nome dado por criminosos às ordens da cúpula da fação para executarem missões, como, por exemplo, ataques contra agentes de segurança. As autoridades, por meio do trabalho de inteligência policial, interceptaram essas ordens.
Segundo Lincoln, o "salve" do Primeiro Comando da Capital para matar representantes do estado saiu das prisões e foi levada às ruas para serem executadas pelo grupo criminoso conhecido como "sintonia restrita". "São indivíduos de alta periculosidade".
"Informações de inteligência já mencionavam que havia ordens da cúpula do PCC inclusive dentro do sistema penitenciário federal. Não saem por telefone, saem através de visitas e muitas vezes através de advogados em conversas codificadas", completou o promotor.
A análise do celular apreendido com Vitor Hugo da Silva, o VH, reforçou a participação dele num plano para matar o coordenador de presídios. Os investigadores encontraram, por exemplo, um minucioso levantamento sobre a rotina de Medina, com fotos e vídeos que mostram o trajeto percorrido diariamente por ele de casa até o trabalho.