Redação do Enem: professor explica por que decorar citações é má ideia e como usar o repertório próprio no texto
06/11/2025
(Foto: Reprodução) Redação do Enem é aplicada no primeiro dia de provas
Agência Brasil
A cartilha da redação do Enem 2025, divulgada pelo Inep em 3 de outubro, manteve as cinco competências tradicionais da redação e reforçou um ponto importante: o uso de repertório próprio e bem articulado ao tema faz diferença na nota.
A competência que avalia o desenvolvimento do tema e o uso do repertório sociocultural, por exemplo, continua valendo até 200 pontos, e segundo Marcelo Maluf, professor de redação e literatura do Colégio Oficina do Estudante, é nela que muitos estudantes acabam perdendo nota ao apostar em citações prontas e fórmulas decoradas, o chamado "repertório de bolso".
👖 O “repertório de bolso” é uma expressão usada para se referir a referências prontas, memorizadas e frequentemente utilizadas pelos candidatos, de forma genérica e pouco aprofundada, sem uma conexão genuína com o tema proposto. É como se fosse um repertório “guardado no bolso” para ser usado com qualquer tema, mesmo que não seja totalmente adequado ou pertinente
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Divisão das competências - redação do Enem
Maluf explica que o problema está em como os alunos usam esse repertório, uma vez que muitos tentam encaixar frases de filósofos ou pensadores que não têm ligação com o tema proposto, comprometendo a qualidade do texto.
📝 Resumindo: não adianta decorar citações para usar na redação. Se elas não tiverem conexão com o tema, podem, inclusive, acabar prejudicando a nota. "O Enem vai valorizar absolutamente qualquer referência, desde que ela tenha vínculo com o argumento que ele está construindo".
Mas o que o Enem realmente espera?
O professor explica que a prova avalia se o candidato consegue construir um texto claro, coeso e capaz de refletir sobre o tema proposto. O repertório é apenas um dos elementos dessa análise, e ele só é considerado relevante quando cumpre um papel na argumentação.
Em outras palavras, não basta jogar uma citação ou mencionar um autor famoso. O estudante precisa demonstrar que domina o conteúdo e que aquela referência contribui para o raciocínio desenvolvido ao longo do texto.
Marcelo explica que o Enem chama isso de repertório produtivo, ou seja, aquele que está articulado à ideia do texto. Já o repertório não produtivo é aquele em que a informação é apenas citada, sem dialogar com o tema, podendo afetar negativamente a nota do candidato.
ACESSE AQUI A CARTILHA DA REDAÇÃO DO ENEM 2025
Modelos prontos e citações decoradas podem atrapalhar, diz professor
Um dos erros mais comuns, segundo o professor, é usar citações de filósofos clássicos em temas que não têm relação com eles.
Ele lembra que, em 2024, quando o tema da redação foi “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”, muitos estudantes citaram Platão, Aristóteles e Hobbes, autores, que de acordo com o professor, são distantes do assunto.
“Esses nomes aparecem em listas de ‘repertórios coringa’ que circulam nas redes sociais. Mas o Enem não quer um texto cheio de frases decoradas, e sim um texto com ideias que façam sentido”, explicou Marcelo.
Marcelo destaca ainda que o uso de modelos prontos pode até prejudicar outras partes da correção. “Quando o aluno tenta encaixar um repertório que não tem relação com o tema, ele não só perde ponto na competência 2, mas também pode ser prejudicado na competência 3, que avalia o projeto de texto e a qualidade dos argumentos”, disse.
Ele diz que esse tipo de repertório, que pode ser considerado “coringa” pelo aluno, é facilmente identificado pelos corretores, e que o texto perde força quando o candidato não mostra a própria reflexão.
Segundo o professor, quem avalia quer ver se o aluno é capaz de articular o conhecimento e propor uma discussão coerente sobre o tema proposto.
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O repertório deve servir à tese
Segundo Marcelo, outro ponto importante é entender que o repertório deve servir à tese. Ou seja, ele precisa reforçar o ponto de vista do texto e ajudar a sustentar os argumentos. Para o professor essa é uma das principais dificuldades entre os candidatos.
“O aluno às vezes lembra de um exemplo, mas não sabe como conectar essa referência à tese que defende. O repertório não pode ser um adorno: ele tem que funcionar como parte da argumentação”, explicou.
Marcelo destaca ainda que essa articulação é o que diferencia uma redação boa de uma excelente. “Um bom repertório ajuda o candidato a sustentar sua tese com mais profundidade. Mas, se ele for usado de forma isolada, sem relação com o argumento, ele perde valor. É como citar um dado ou uma obra só para preencher espaço, o corretor percebe”, disse.
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O que é um repertório próprio?
De acordo com o professor, o repertório próprio é tudo aquilo que o estudante construiu ao longo dos estudos e da vida: obras lidas, filmes assistidos, séries, fatos históricos e até discussões em sala de aula. “O candidato precisa olhar para o que ele realmente conhece. Às vezes, uma música, um filme ou uma experiência cultural dizem mais sobre o tema do que uma citação filosófica fora de lugar”, afirma.
Ele cita como exemplo uma redação que alcançou nota mil ao usar o desenho animado Peppa Pig para discutir publicidade infantil. Segundo o professor, a referência simples, mas pertinente, valeu mais do que as citações de filósofos que nada tinham a ver com o assunto.
“Muitos diriam que, ‘ai, nossa, um desenho animado vai ser repertório?’. Claro que vai. Tem a ver com o tema. Estamos falando de publicidade infantil, então ok usar propaganda de desenho animado. Faz sentido com esse tema. Pra que vai citar um filósofo grego pra falar sobre publicidade pra crianças? Então o candidato tem que associar o tema à vida dele e ao que ele construiu”, explicou.
Segundo o professor, construir um bom repertório é um processo contínuo, e não algo que se faz nas semanas que antecedem o Enem. A dica é manter um caderno de anotações ao longo do ano, registrando obras, notícias, ideias e exemplos que possam ser úteis no momento da prova.
Marcelo recomenda que o estudante priorize o que realmente conhece e sabe explicar. Segundo ele, na hora da prova, tentar lembrar uma citação decorada pode gerar confusão, enquanto um exemplo que o aluno domina tende a ser melhor articulado na argumentação.
*Estagiária sob supervisão de Yasmin Castro.
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