MP pede imagens de câmeras para apurar ação de PM armada em escola de SP após pai reclamar de aula de 'religião africana'
19/11/2025
(Foto: Reprodução) PMs vão à escola em SP com metralhadora após pai reclamar de desenhos de matriz africana
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu que a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) disponibilizem imagens de câmeras de segurança e corporais após 12 policiais militares armados, um deles com metralhadora, circularem na EMEI Antônio Bento, na Zona Norte.
Os agentes foram até a escola após uma denúncia feita pelo pai de uma aluna. Segundo ele, a escola estaria obrigando a criança a ter “aula de religião africana” por conta de um desenho com o nome "Iansã", orixá ligado aos ventos e às tempestades.
A determinação foi tomada após a deputada federal Luciene Cavalcante (PSL), o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL) e o vereador Celso Giannazi (PSOL) apresentarem uma notícia fato sobre o caso.
No despacho publicado na segunda-feira (17), o promotor pediu uma série de apurações iniciais antes de decidir se vai abrir uma investigação ou tomar outras medidas na Justiça.
Além das imagens de câmeras de segurança, o MP também solicitou à Seduc:
que tipo de apoio a Diretoria Regional de Educação ofereceu aos profissionais da EMEI durante o episódio;
a identificação do pai que teria destruído murais da escola, além de relatar detalhadamente o que houve e quais providências foram tomadas pela unidade;
esclarecimentos gerais sobre o caso;
se houve acionamento do GIPE (Grupo de Intervenção e Proteção Escolar) e quais medidas foram adotadas;
E para a SSP pediu:
a identificação dos agentes que participaram da ação
cópia do acionamento que motivou a ida da PM à escola;
informar se a pessoa que fez a denúncia à corporação é policial e qual sua função;
informar a qual batalhão pertencem os envolvidos;
encaminhar todos os registros produzidos pela PM sobre o caso;
informar se foi aberto um Inquérito Policial Militar (IPM) ou outro procedimento interno e enviar cópias dos autos já produzidos.
O caso também será informado à Promotoria Militar.
Pai que denunciou escola é PM
O pai que acionou policiais militares armados para entrar na Emei Antônio Bento é um PM da ativa, confirmou a SSP.
O nome do militar consta do Portal da Transparência do governo estadual — ele aparece como soldado de 1ª Classe da Polícia Militar. Seu nome não será divulgado para preservar a identidade da criança.
Uma servidora ainda afirma que foi pressionada contra a parede e teve uma arma encostada em seu corpo durante a abordagem, que teria durado cerca de 20 minutos.
Procurada pelo g1, a SSP informou que a Polícia Militar instaurou um procedimento para investigar a conduta da equipe e que a Corregedoria da PM permanece à disposição para receber denúncias ou informações que ajudem nas investigações. A pasta diz que apenas quatro PMs da 2ª Cia do 16º BPM/M atuaram na ocorrência no interior da escola.
Testemunhas relataram que um dos policiais teria gritado “várias vezes”. A funcionária afirma que os PMs permaneceram dentro da unidade “por mais de uma hora” e que pais e mães de estudantes presenciaram toda a cena.
O episódio aconteceu em 11 de novembro, depois que o pai acionou a PM dizendo que a filha estaria sendo obrigada a participar de "aula de religião africana" por causa de um desenho com o nome "Iansã".
Ainda segundo a SSP, a funcionária da escola registrou um boletim de ocorrência por ameaça contra o pai, que, por sua vez, também registrou BO negando ter danificado um painel da escola ao retirar um desenho da filha.
A funcionária relata que explicou aos policiais que a escola trabalha com "currículo antirracista, documento oficial da rede" e desenvolve propostas que apresentam às crianças elementos da cultura afro-brasileira.
Representante da Rede Butantã, a jornalista Ana Aragão afirmou que a situação gerou “muita indignação”. “Quem assediou foi o próprio comandante de área da PM, lamentavelmente. O pai da aluna rasgou todos os desenhos que estavam no mural da escola, feitos pelos próprios alunos”, disse.
Moradores da região elaboraram um abaixo-assinado em defesa da escola e dos profissionais da Emei Antônio Bento.
O documento expressa “integral e irrestrito apoio” ao corpo docente e acusa os policiais de orientarem a comunidade escolar “de forma errônea e racista” ao classificarem o trabalho pedagógico como inadequado.
Em nota, a Secretaria Municipal da Educação afirmou que explicou ao pai da estudante que o trabalho apresentado pela filha integra uma produção coletiva do grupo e faz parte de propostas pedagógicas previstas no Currículo da Cidade, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena. A pasta não se manifestou sobre a atuação dos policiais dentro da escola.
EMEI Antônio Bento, na Zona Oeste de SP
Reprodução/Google Street View