Como criação de CEP nas 118 favelas e comunidades de Campinas promove inclusão social
23/10/2025
(Foto: Reprodução) Comunidades de Campinas ganham CEP e passam a ter acesso a serviços essenciais
Todas as 118 favelas e comunidades urbanas de Campinas (SP) registradas no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram cadastradas com um código de endereçamento postal (CEP) no início deste mês, segundo os Correios.
Ao todo, a metrópole tem 140.784 pessoas residentes em favelas e comunidades urbanas, sendo 70.789 mulheres e 69.995 homens, conforme apontou o Censo 2022.
A idade mediana dessa população é 29 anos. Do total:
53,32% são pardos
33,08% são brancos
13,35% são pretos
0,16% são indígenas
0,09% são amarelos
A dona de casa Maria Leonice Silva já sabe o que vai fazer quando passar a ter um CEP.
"Vou limpar meu nome. Por conta de não ter CEP, não passa Correios. Então as nossas cobranças, literalmente, vão para outro canto. É onde a gente se perde no meio das contas. A gente vai achando que não está devendo, e as contas vão só chegando, acumulando e quando a gente vê, está com o nome sujo", contou.
Reparação histórica
Para a pesquisadora do Observatório da PUC-Campinas, ter um CEP o quanto antes nas comunidades é uma questão de reparação histórica. “Não ter CEP é fruto dessa política de urbanização desordenada historicamente no Brasil”, afirmou Camila Massaro.
"É possível entender essa política do 'CEP para Todos' como uma política, apesar de tardia, importante e reparatória. É um primeiro passo importante para que todos os endereços sejam reconhecidos e para que as pessoas tenham acesso a essas políticas públicas", disse.
Marcela Reis é coordenadora social da Central Única das Favelas (CUFA) em Campinas. Ela dá a dica para os moradores que vão passar a descobrir o próprio CEP de agora em diante: acessar os recursos disponíveis.
“Todos os bairros têm o CRAS. Procure esse CRAS, leve o comprovante de endereço para que ele tenha acesso aos benefícios municipais e também aos benefícios do governo, como Bolsa Família, vale-gás e assim por diante”, orientou.
Imagem aérea da região periférica de Campinas
Reprodução/EPTV
Como encontrar o CEP
✉️ Para encontrar qualquer CEP, incluindo esses novos, basta consultar o site dos Correios.
O cadastramento foi feito pelo Governo Federal, no programa “CEP Para Todos”, parceria entre o Ministério das Cidades e os Correios.
As ações começaram em 2024 e tinham como objetivo levar o endereçamento a todo o Brasil até o fim de 2025.
Em todo o país, foram gerados códigos para 12.348 comunidades registradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde vivem 16,39 milhões de pessoas.
As ações beneficiaram regiões periféricas em 656 cidades brasileiras. A maioria dos novos endereçados pelo país é de pessoas pretas e pardas (72,9%).
Etapas em andamento
O programa ainda prevê duas fases complementares:
▶️ Mapeamento completo de logradouros em 300 favelas e comunidades, com criação de CEPs específicos para ruas, vielas, becos e travessas. Até o momento, 765 códigos já foram gerados.
▶️ Implantação de atendimento físico dos Correios em 100 favelas espalhadas pelo país.
Por que o CEP é importante
Segundo a Secretaria Nacional de Periferias, vinculada ao Ministério das Cidades, o endereço formal é uma chave de inclusão social e cidadania.
A ausência de CEP dificulta o acesso a serviços públicos, como saúde, educação e programas sociais, além de impedir inscrições em concursos e candidaturas a empregos.
Um exemplo citado pelo governo ocorreu em Campo Grande (MS). Na comunidade Nova Esperança, uma epidemia de sarna humana não estava sendo atendida pelo posto de saúde mais próximo porque os moradores não possuíam código de endereçamento.
Após a criação do CEP, a comunidade passou a ser atendida regularmente por agentes de saúde e assistência social, e vários moradores finalmente conseguiram acesso a benefícios sociais aos quais já tinham direito.
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